As promessas de um rosto
Eu te amo as sobrancelhas que ao curvar-se imitam
Da treva os véus e o movimento;
Embora negros, os teus olhos me suscitam
Nem sempre turvos pensamentos.
Teus olhos, cujo tom às cores se combina
De tua ondeante crina elástica,
Teus olhos lânguidos me dizem em surdina:
"Se tens, cultor da musa plástica,
Confiança nesta fé que em ti tanto exaltamos,
E nos prazeres que anuncias,
Poderás comprovar de fato o que afirmamos
Do umbigo às nádegas macias.
Verás nos bicos destes seios que desnudo
Dois brônzeos medalhões febris,
E sob um verme cuja tez lembra o veludo,
Ou do bistre o negro matiz,
Um soberbo tosão que é o gêmeo, na verdade,
Dessa outra juba que fulgura,
Suave e frisada, e que te iguala em densidade,
Noite sem astros, noite escura!"
- BAUDELAIRE, Charles
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